terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Negligência

Parece que a investigação nunca considerou que uma das causas da sua morte, foi o facto de ter nascido

Les Misérable

Lá está de novo o Artista,
com as mesmas roupas de ontem,
com as mesmas roupas de amanhã
a fazer tudo de novo, da mesma maneira.

Os bastidores são sempre miseráveis,
os camarins são sempre miseráveis

Os artistas parecem estar sempre sozinhos em palco,
sempre miseráveis.
Mesmo quando há mais do que um,
estão sempre sós uns com os outros.

Todos os finais têm aplausos, sempre os mesmos aplausos
E aos aplausos, sempre a mesma maneira de agradecer.

Todas as noites, com a mesma roupa,
os mesmo bastidores, os mesmos camarins,
os mesmos aplausos, os mesmos miseráveis

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Reflexer

Quando vou ao espelho
e me ponho a ver em vez de olhar.
Vejo-me morrer devagar,
O corpo que apodrece
de forma invisivel,
como um ponteiro das horas irreversivel.

Mistério da Fé


Perguntei a Deus se existia,
não me respondeu.
Perguntei a Deus se eu existia,
também não me respondeu

domingo, 16 de outubro de 2011

os cavalos verdes

Pelo Mundo a dentro,
de pele arregaçada com os pés a rasgar a terra,
Violentamente
Violentamente
Violentamente batem-me particulas no peito
e abrem-me ao meio,
solto as andorinhas dos ninhos
e dou pulos de alegria com energia!
e dou pulos de tristeza perante a dureza!
As cordas desafinadas também dão musica,
também fazem notas,
também cortam os dedos,
também têm cores também têm texturas

 E para que servem os olhos se a verdade e a realidade não são a mesma coisa?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

o gomo utópico

Nunca vi um gomo de um Limão,
nunca fiz o ritual de lhe tirar a casca com decência.

Um gomo de Limão
é apenas uma raridade por acaso.

Para ver o gomo do Limão é preciso:
querer ver o gomo do Limão,
pegar no fruto ( de preferência com os dedos),
aguentar o ardor da adstringência enquanto o descascamos
e separar o gomo do conjunto.

Vou ficar á espera para querer ver um gomo de Limão.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Por vezes,
vejo a mesmo Árvore que o cão.

domingo, 15 de maio de 2011

lá fora

O velho que segue na berma da estrada,
vai pela tarde dentro
pela vida fora.

O alcatrão quente,
queima-lhe a sombra, cada vez maior.

O tempo permanente,
queima-lhe o corpo, cada vez pior.

Tenho os braços mais curtos do que a vontade

Tenho os olhos que não percebem a distância

E mesmo que por momentos,
tudo pareça verdade,
para o resto da eternidade,
foi apenas um efémero que pareceu realidade

domingo, 27 de fevereiro de 2011

aparador do Tempo

Fui ver se te encontrava.
Fui ver se te via.
E fui ver se te via em algumas gavetas.

Nas gavetas há sempre objectos pausados.
Com certeza que estes objectos só têm as tuas impressões digitais.

De certa forma,
quando abrias estas gavetas era com a certeza que aqui tinhas tudo.
Pelo menos tudo o que eu precisava.

Ouvia de longe as tuas mãos vasculharem essas tuas gavetas.
Cada gaveta tem as suas mãos.

Fui ver se te via com as minhas mãos.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

individuos

Não há outros pés que não os meus nas minhas pegadas

As tuas,
por mais perto das minhas,
são as tuas pegadas.

São pegadas tuas perto das minhas.

Daqui vejo as tuas,
Tu vês as minhas: fazem um ritmo, um padrão

Mulher do povo árabe

Limaste as grades de ferros com os teus dedos.
A suavidade foi corrosiva para o metal pesado e tosco.

Nem mesmo a água molda as pedras,
como o que as tuas mãos fizeram.

Nem mesmo o vento constrói dunas,
como o que as tuas mãos fizeram.