segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Carnaval



  Foi no fim da festa,
  que me tornei uma besta.
  Foi mesmo no fim que fiquei assim.

  Ninguém achou piada,
  ninguém perguntou porquê.
 
 Estava tudo calado,
 a olhar para o lado

 e eu ali mascarado.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Homens de gravatas pretas


 Lá vai o homem sozinho,
 com o buraco preto no peito.

 Tem no pescoço o nó da solidão.
 Está perdido e já só olha para o chão.

 Perdeu-se a caminho da rua,
 perdeu-se a caminho de casa.

 Caminha devagar,
 está sem pressa de viver.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Fábula redonda



 Foi com surpresa que a Natureza viu o espanto do Homem.

sábado, 14 de dezembro de 2013

/ = I




  O Homem deitado,
  O Homem que corre,
  têm os dois a mesma meta.

  O Homem deitado,
  O homem que corre,
  olham os dois em frente.

  O Homem deitado respira devagar,
  O Homem que corre respira depressa,
  fazem os dois o mesmo.

-1, 0, 1




   O vizinho está sempre sozinho,
   parado na vida
   a fingir que existe.

   Vejo-o da minha janela.
   Se não fosse eu,
   ninguém o via,
   já não existia 

Esquizofisionomia



  A Zebra que se julgue Leão,
  não sabendo caçar,
  torna-se no primeiro felino vegetariano.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Liberalismo




  Um Homem,

  Entra numa sala cheia de outros Homens,
  tira do bolso um balão
  e começa a enche-lo
 
  O espaço vai-se tornando exíguo
  Homens começam a transbordar
  Homens começam a morrer.

 
 
  

quinta-feira, 6 de junho de 2013

mais do que os muitos


  A vida,
 é uma quantidade enorme de dias.

 A morte,
 são todos os outros.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

o Funeral


Nunca mais vi Figos.
Nem à mesa,
nem na rua.

Nunca mais vi Figos desde que morreu.

Nunca mais o vi.
Nem à mesa,
nem na rua.

Desde que morreu.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

e os aviões de papel



  Entre a cabeça e a chuva
  tenho a escravidão.

  Se aprendesse a andar à chuva,
  se aprendesse a ter as meias molhadas

  Entre a minha cabeça e a escravidão,
  Teria nada.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Negligência

Parece que a investigação nunca considerou que uma das causas da sua morte, foi o facto de ter nascido

Les Misérable

Lá está de novo o Artista,
com as mesmas roupas de ontem,
com as mesmas roupas de amanhã
a fazer tudo de novo, da mesma maneira.

Os bastidores são sempre miseráveis,
os camarins são sempre miseráveis

Os artistas parecem estar sempre sozinhos em palco,
sempre miseráveis.
Mesmo quando há mais do que um,
estão sempre sós uns com os outros.

Todos os finais têm aplausos, sempre os mesmos aplausos
E aos aplausos, sempre a mesma maneira de agradecer.

Todas as noites, com a mesma roupa,
os mesmo bastidores, os mesmos camarins,
os mesmos aplausos, os mesmos miseráveis

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Reflexer

Quando vou ao espelho
e me ponho a ver em vez de olhar.
Vejo-me morrer devagar,
O corpo que apodrece
de forma invisivel,
como um ponteiro das horas irreversivel.

Mistério da Fé


Perguntei a Deus se existia,
não me respondeu.
Perguntei a Deus se eu existia,
também não me respondeu

domingo, 16 de outubro de 2011

os cavalos verdes

Pelo Mundo a dentro,
de pele arregaçada com os pés a rasgar a terra,
Violentamente
Violentamente
Violentamente batem-me particulas no peito
e abrem-me ao meio,
solto as andorinhas dos ninhos
e dou pulos de alegria com energia!
e dou pulos de tristeza perante a dureza!
As cordas desafinadas também dão musica,
também fazem notas,
também cortam os dedos,
também têm cores também têm texturas

 E para que servem os olhos se a verdade e a realidade não são a mesma coisa?